sábado, 30 de novembro de 2013

Abismos

É mais fácil falar
Tão mais fácil falar
Gosto do jeito que as palavras saem
Assim como promessas
Quanto mais necessárias
Mais parecem certas
A gente inventa formas de convencer
Se convence do que foi dito
E quanto mais prometemos
Menos cumprimos
Assim criamos nossos próprios abismos

[Wandy Oliveira]

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Folha Solta

O desespero suave
Que antecede sua voz
Os segundos antes
A dissonância constante
Tremula minhas palavras
E já não digo nada

Sobre a pele, pêlos
Sob a tenra luz do quarto
Os detalhes desenhados
Riscando sombras na parede
Moldando novos pecados
Navegantes pensamentos
Sobretudo desejos
Hoje emoldurados
Minha alma anseia
Por páginas antigas
De um álbum de retratos

Quando olho pra frente
É como se voltasse no tempo
O fogo que me inspira
Respira ainda antigos ventos
Sinto desespero
Quando assumo saudade
Sinto sua falta
Essa dor me castiga
E antes que me venham as palavras
O que quer que eu diga
Eu já não digo nada

Sou  folha solta que o vento assovia pra longe
Apenas lembrança de um tempo distante

[Wandy Oliveira]

Sagrado Amparo

Os teus longos cabelos loiros
Laçando-me a contragosto
Lançando-me a outro posto
A última opção
A tua língua fingida
Ferindo-me por dentro
Tal qual puro veneno
Expondo-me no chão
O teu sagrado amparo
Que tanto me atormenta
Ainda tu se lembra?
Acho que não lembra não
E todo sua coisa
Que me tira do hemisfério
Não sou mais levado à sério
Perdi a direção


[Wandy Oliveira]

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Luz

Num tem jeito
A verdade está
Onde a gente acredita que esteja
O que alguns chamam de mentira
Outros batizam de certeza
A ilusão é delicada
Sorri no escuro
Conselho não faz eco
Quando o coração é surdo

É, mas num tem jeito
Mentira pode ser verdade
Basta acreditar
E quase sempre é
Somos de natureza arrogantes
E procuramos a luz
Que melhor iluminar
Não importa o quanto ela dure
Somos feito do hoje, do agora
A gente adora se enganar

[Wandy Oliveira]

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Mar Adentro

Não diga que eu não avisei
Quando tudo escurecer
E a chuva que arriar
Parecer maior 
Do que seu guarda-chuva pode suportar
Quando uma tempestade, um dilúvio
Inundar a cidade
E nem o barco 
Possa manter-se acima do nível do mar
Não chore
Ou chore

Só não diga que não avisei

Quando enfim escurecer
E toda chuva dos seus olhos
Inundar seu apartamento
Quando o fim for no peito
E seu desafinado coração
Perder-se em batimentos
Quando toda ângustia
Sufocar sua voz
E não tiver força pra gritar
Quando suas pernas
Hesitarem ao tentar levantar
E todo seu mundo
Deságuar mar
Não, não chore

O mal adentra o peito e fere

O mar adentro à flor da pele
Todo coração é labirinto
E quando chove é água do mar
É água de sal
Feita pra cicatrizar
Chora o que tem pra chover
Chove o que tem pra chorar
Tristeza é capaz de passar
Só não diga que eu não avisei
Deixa a tristeza desaguar

[Wandy Oliveira]

sábado, 16 de novembro de 2013

Sonho De Valsa

Ninguém ouve nada
E todo mundo fala tudo
E quando cheio de palavras
É quando tudo fica mudo
Nesse estranho descaso
A gente muda sem sentir
E sem os pés nos chão
É tão mais fácil cair
O mundo vai girando
Muito simples se perder
E não há explicação
Nem há o que entender

Há coisas que simplesmente
Não se explicam
Ou sequer precisam
Se explicar

Porque é surpreendente
Como se criam
Ou se imaginam
Histórias pra sonhar

No sonho,
Na valsa,
Nas asas de toda paixão
Sonhamos
Dançamos
Voamos tal qual emoção

E tudo se precisa, quando o que se precisa é acreditar
E tudo se precipita, quando se precipita o desejo de estar

Quem disse que as palavras descrevem
Ou traduzem
Ou refletem os anseios da alma
Elas emudecem
Endurecem
Ferem
Nos fazem perder a calma

E todo mundo fala tudo
Fala tanto
Mas não diz-se nada
sobre tudo diz-se muito
Todo mundo
É tudo quase nada

[Wandy Oliveira]

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Dragão

Não se aprisiona um espírito
Que teima em ser livre
Nem se deprecia
Um coração que insiste
Não se oprime
Sequer o menor dos desejos
Ora quem foi que que disse
Que amar é não ter liberdade!?
Reter a vontade alheia
É pura vaidade
O orgulho sufoca a alma
Fere as duas mãos da via
O vento da incerteza é sedutor
O acaso em cada passo
Não é privilégio de um
Toda escolha é incerta
Mas nem toda porta
Permanece aberta
Quem nunca andou só
Quis ser apenas só
Tão mais sozinho!?
Não hesite nos devaneios
Essa é a hora de errar
Todos precisamos dos riscos
Para aprender a nos limitar
É bem no fundo d'alma
Que o dragão permanece dormindo
Por dentro somos todos medo

E teimamos em ser sozinhos


[Wandy Oliveira]