sábado, 31 de agosto de 2013

Não perca de vista as flores

A tempestade que meus olhos causam
São tão voluntárias
Quanto calos causados por sandálias
Que meus pés descuidados
Resolveram calçar

Caçando nos diálogos
As palavras certas
Me equilíbro na corda
Enquanto o vento me acerta
A teimosia é só o que resta
Pra me segurar

É como se em um corredor
Com muitas portas
Nenhuma estivesse aberta
Ou se em queda
E por mais que tentasse
Não houvesse nada
Que eu pudesse fazer
Capaz de evitar

Às vezes o melhor é fazer
É chorar
Às vezes o melhor a fazer
É aceitar

Não somos poucos no planeta
E não somos únicos em nossas dores
E quando choramos a vista embassa
E perdemos de vista todas as flores

É natural que a dor nos esmague
E que cansados, cogitamos desistir
Natural que nossa memória se vá
E que a gente se esqueça de como é bom sorrir
Mas que nunca saia da cabeça
Que por pior que pareça
É importante que a gente cresça
Com qualquer dificuldade que surgir

Saiba que ainda existem ombros preocupados
E outros que também se importam
Assim como resolveu se preocupar
Aceite outros braços pra se apoiar

O mundo é um eterno recomeço
E eu desconheço quem sozinho
O mundo inteiro nas costas
Foi capaz de levantar

Às vezes o melhor a fazer
É descansar
Às vezes o melhor a fazer
É aceitar

[Wandy Oliveira]

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Ilhados Desejos

Olha nós aí numa boa
Indo pra lá e pra cá
É sempre tão bom ficar à toa
É sempre tão bom "pra quem tá"

Garota serena a garoa
O vento vem pra congelar
Te esquento e tu fica de boa
É cinzenta a massa de ar

E o tempo parece que voa
E a gente parece voar
No seu branco qualquer cor distoa
E no barco o balanço do mar

Pra aquietar
Ouça uma canção
É sempre muito bom
Se deixar levar

Foi no mar
Que ouvindo uma canção
Abri meu coração
E me deixei levar

Pra testar
De vez em quando é bom
Deixar a emoção
Se manifestar

[Wandy Oliveira]

sábado, 24 de agosto de 2013

Somente se...

Só volte se for pra me fazer feliz
Do contrário não saia de casa
Não pegue o telefone
Não tente me encontrar

Morena eu sempre fui sincero
Sempre fui inteiro
Não posso ser a terça parte
De uma história sem começo

Cada traçejado
Cada curva colorida
Cada frase pensada
Cada oração construída

Era você no papel a todo tempo
Dedicadas letras
Contornadas as cores desde o sapato
As borboletas

Não volte se for pra dizer que não
Que não sabe
Não quero mais histórias mal contadas
Não há necessidade

Existem tantos em tantos lugares
Que apesar de toda suposta sorte
Ainda tenho tempo
E apesar de toda dor
Ainda me sinto forte

Morena não volte se não me quiser
Tanto mais eu lhe queria
Não poderia suportar
Cairia feito folha na ventania

Morena pêssego
Só volte se for pra dizer que sim
Só volte se for pra me fazer feliz

[Wandy Oliveira]

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Correntes

O contorno
O sorriso
O brilho nos meus olhos
Seus olhos sobre os meus
Seu feitiço
Seu jeito
Ou sabe lá se foi Deus
Eu estava longe
Estava disperso
E quando vejo
Não há mais distância
Meu castelo estava aberto
Escancarado
E você com suas correntes
Arrastando por todo lugar
Já não tenho mais idade
Mas tenho muito medo
Minhas palavras não saíram
Desconexas
Desencontradas
Eu só sabia sorrir
E mais nada
Não é justo que tenha que ser assim
Tanto incomum
E não há nada que eu faça
Que desfaça o seu efeito sobre mim
Não pude te esquecer
Nem me perder enquanto olhava pra você
O mundo que havia desapareceu
E era só você e eu
Assim como os pensamentos eram meus
E nada além aconteceu

Sou carente
Sofrível até no embate
Me assusta saber
Que vai doer cedo ou tarde

Tenho medo dos fantasmas
Dos amores amarrados
Das dores causadas
Medo do passado

Tudo volta à tona
Como que pra testar
Os calos viram escudos
Mas não proteção impenetrável


Fantasmas não são mudos
E voltam pra assombrar
Mesmo no fim do mundo
O encontro será inevitável


[Wandy Oliveira]

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Arte

De repente o tempo virou
E não há copo que resista
Mas não se desespere
Tampouco desista
Toda ação tem consequência
E não é a simples conveniência
Que irá determinar o que passou
Não sofra por pegadas
Que o mar ainda não apagou
Você subiu depressa
Fechou os olhos
Jogou sua sorte pro alto
E não adianta procurar
É preciso calma
É preciso aceitar
Que toda força imposta
Retorna forte em nossa direção
A proporção do que somos
É na raiz o que plantamos
Não nos fizemos hoje
Não houve uma explosão
E simplesmente aparecemos
Infelizmente não

Mas o mundo lhe favorece
Assim como o tempo que sobra
Desimporte-se com a voz que julga
Com o dedo que aponta
Sonha com os olhos abertos
Ponha em prática os desejos
Respeite os seus receios

Menina suas cores encantam
Não queira sombrear o traço
Você já é arte exposta ao público
Desfaça o laço
Pra trás ficam as lembranças
Não se prenda tanto
Mas aceite que um recomeço
Não significa uma página em branco

[Wandy Oliveira]

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Mais Um Refúgio

Vou me desfazendo dos versos
Destrinchando os pensamentos
Vasculhando a memória
Em busca de provas
Sou testemunha única
De minha desprovida vontade
No desejo de te esquecer
Não diluo meus segredos
Em qualquer ouvido saliente
Nem distraio minha língua
A ponto de expôr minha fragilidade
Mas em uma simples canção
Me entrego sem notar
Quando dou ênfase a saudade entoada
Ou quando no verso triste
Desisto de cantar

Por que sua ausência ainda dói?
Por que ainda sinto sua falta?
Me mata sermos tão mínimos
Em um mundo tão imenso
Sermos tantos!
Tão ingrato destino
Não cruza sequer uma vez
O meu caminho com o seu

Queria não te encontrar
Ou te encontrar sem querer
Só pra nos seus olhos ver
A alegria refletida
Disfarçada em gestos falsos
Na mecânica disforme
Que meu orgulho idiota
Tentaria camuflar
Ou quem sabe
Com um pouco de sorte
Num impulso impensado
Ter seu sorriso sincero
Estampado em um abraço
Desses que parecem nos estragular!?

Vou mais uma vez voltar no tempo
Me fazer sonhar
Do jeito que era bom
QUando a gente se beijava lento
Ou quando deitados sem pretensão
Nos desfazíamos nota
E naturalmente éramos canção

Na contramão do que é real
Nem todo sonho é bom
Busco refúgio no imagiário
Ignoro por completo a razão

Quanto mais me escondo
Tanto mais desespero
A verdade que me resume:
"O que não devo, mais venero"

[Wandy Oliveira]

Caco

Meu mundo é caco
Minha vida 
Pedaço
Minha vontade
Metade 
Nada do que é concreto 
É completo 
Ou satisfaz
Faz tempo que não me contento
E no fundo entendo
Que meus tormentos
São em detrimento
De ações intencionais
A sombra dos meus atos
Me acompanha onde eu vá
Questionar não é viável
Acomodado nada há de mudar
Imutável insatisfação própria
Indesejável condição imposta

[Wandy Oliveira]

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Oco

Estou sentado numa ilha
Vendo ao longe minhas oportunidades
Com os olhos marejados
Espelhando meus arrepedimentos
E já não sobra tanto tempo assim
Ah quem diga que sim!
E pode até ser verdade
Mas quando eu era mais leve
E não tinha o mundo todo
Forçando meus joelhos
É lógico, era mais confiante
Mas agora distante
Sentado numa ilha
Me vendo passar ao longe
Sempre com pressa
Aproveitando os dias
Ou achando aproveitar
Ah eu tinha mais vontade!
Era bem verdade
Eu sabia tudo
E com o passar do tempo
Mais maduro
Descobri não saber nada
E hoje prefiro não dizer
Já não sei mais
Se o peso do que sei
Me engrandece
Pois me parece
Que quanto mais aprendo
Tanto mais difícil é ser
Ou se prefiro
A beleza ignorante
Dos que vivem seus dias apenas por viver
Agora sentado
Ilhado em mim
Desistituído de vontades
De saco cheio com minhas verdades
Prefiro o conforto do que fui
A inconstância que me acompanha
Os anos me secaram
Os calos me anularam
Sou oco como tronco velho
Mas ainda fincado na terra
Com minhas raízes vivas
E sentado em uma ilha
Apenas observo

[Wandy Oliveira]

Só Lembrança

Fico viajando
Durante horas inteiras
Imaginando
Ou tentando imaginar
Como está ou o que está fazendo
Se está feliz ou não
Se está cozinhando, cochilando, estudando
Fico me torturando
Machucando o próprio coração

Fico recordando
E como é bom lembrar!
Dói, mas acaba sendo inevitável
Quando vejo
Já estou a divagar
Vendo a gente namorando
Vendo a gente se casar
E confundo minhas memórias
Pondo sonhos no lugar

Eu até queria manter a porta aberta
E você dispersa entraria sem perceber
E perceberíamos alí naquela sala
Entre o sofá e a tevê
Que o que mudou foi o clima
Ontem chovia
E mudou também a geladeira
Hoje tá vazia
Mas não houve mudança
Que tivesse significância
Na maneira que eu te via
Ou no que sentia por você
Você vai ver

O vento há de soprar
E não vou lembrar do que ficou pra trás
O tempo há de passar
E nem vou notar que já não te amo mais

[Wandy Oliveira]

Simples

É muito simples
Amor é coisa que a gente inventa
É força de vontade
É querer mútuo
É fazer dar certo
É letra em conjunto
Formando sílaba, frase
Rendendo assunto
Aglutinando versos
É voz materializando a escrita
A intenção no gesto
Saber de cor as preferências
Cor preferida e todo resto
O presente
O encontro
Um acordo
Um impondo sobre o outro
Os desejos
Os desgostos
São as fitas
Que apertam os laços
Que amarra
Escraviza
Pura rotina
É aprendizado por repetição
É decidida indecisão
Tantas bobagens!
O amor num é nada não
É carência cultivada
Motivação pós-mágoa
É ressentimento não digerido
Alegria exagerada
É tudo mas num é nada
O amor num é nada não
Tantas bobagens!
Simples inverdades

[Wandy Oliveira]